Às vezes vem uma
vontade de escrever tudo o que me acontece. Cada conexão complexa que me faz
ser vida e por acaso, ainda por cima, me faz ser eu. Isso é besteira. Eu já sei
que pra isso haja é mão. E depois, o pouco que eu sei é só um tiquinho de nada.
Ficaria faltando, por assim dizer, o infinito. E é justo esse que ando pesquisando para quem sabe
nunca eu poder, sem jamais escrever, tal dissertação. Distração tola, diriam
muitos, mas muito menos que tola, eu diria sem desmerecimento nenhum, muito
pelo contrário, inútil. Uma vez que essa empreitada está fatalmente fadada ao
fracasso. Isto é, sem conclusão. Estudar o infinito demora bastante e é por
isso que eu escolhi isso de passatempo. Além de demorado ele também é muito.
Tenho QUASE certeza que as eventuais sensações de saturamento, exaustão, de
asfixia, de náusea, intoxicação e a agonia dos soluços, dos choros com soluço,
vem desse infinito que eu não conheço. Ele é demorado, é grande, é de uma
proporção tamanha que eu falo mas na verdade não tenho nem ideia. No entanto, está dentro de mim me fazendo passar mal uns bons dias. Com todo esse tamanho
me enchendo sem me estourar. Nesses dias me sinto é cheio, de saco cheio, cheio
de vazio. Vazio que não se enche com bebida, nem comida e nem fumaça porque faz
parte também do infinito. Desconfio de alguns vácuos mas não tenho certeza de
nada. As coisas finitas eu não sei por que as estudam tanto. São importantes, é
claro, mas muito superestimadas. Observar uma coisa acontecer e esperar que
assim sempre aconteça, apenas nos orienta mais ou menos. Para toda regra há exceções.
Sempre haverá os outros pontos de observação. E depois, há infinitos eventos que
transcendem a nossa sensorialidade e que, assim sendo, serão para sempre
ignorados pelo nosso pensamento. No final as coisas finitas também
têm que ver com o infinito e é por isso que ando ocupado dele. Sei que falo por repentino pessimismo que em certos momentos o infinito me enche de vazio. É só na hora
da tristeza. Eu falo por falar. Pra ver se
sai um pouco do tanto que tá em mim pela voz. Esse tanto que quanto mais vazio
maior o peso. Esse tanto na tensão entre murcho e a ponto de arrebentar. Mas falar por falar não adianta, escrever que é bom. Escrever é um
bom remédio para o tédio existencial e um passatempo tão bom quanto estudar o
infinito.
quarta-feira, 27 de novembro de 2013
sexta-feira, 8 de novembro de 2013
Refrescamento
De noite na cama eu fico pensando.
Como é possível, meu deus, o pensamento.
Levanto e ligo o ventilador.
E então é ouvir o barulho rodando.
Assim esqueço de inclusive pensar
Vou nesse mantra girando.
É que o ruído abafa o som mais ou menos.
Dessa voz que não sabe refletir em silêncio.
O ventilador tem essa função além do refrescamento.
Foi feito também para ninar as cabecinhas de vento...
Como é possível, meu deus, o pensamento.
Levanto e ligo o ventilador.
E então é ouvir o barulho rodando.
Assim esqueço de inclusive pensar
Vou nesse mantra girando.
É que o ruído abafa o som mais ou menos.
Dessa voz que não sabe refletir em silêncio.
O ventilador tem essa função além do refrescamento.
Foi feito também para ninar as cabecinhas de vento...
domingo, 3 de novembro de 2013
Boiar
Ai, meu deus! O que será de mim?
Não faço ideia se me especulo e sou ao mesmo tempo.
Mantenho a calma, medito, rezo, bebo, durmo
Corro, choro, me recomponho e me destruo.
O que tem me acontecido eu só vou saber depois.
Agora estou muito envolvido nessa tarefa de existir.
Abençoado por anjos e atormentado por demônios.
Atrapalhado nos percalços reais e imaginários.
Entretido com os mínimos prazeres.
Tudo isso me toma tudo, tudo isso me custa a minha vida.
Não tenho dois tempos e nem sei me dar certa distância.
Como poderia eu mesmo saber o que será de mim
se exatamente o que sou é essa ignorância?
Estou em alto mar abraçado em um barril.
Há os dias que penso estar bem próximo de uma praia.
Em certas noites solitárias tenho a certeza do meu fim.
Só o tempo vai mostrar, o que por ora não dá para saber.
Em matéria de viver o negócio é boiar.
Principalmente quando o assunto é o que vai ser.
Não faço ideia se me especulo e sou ao mesmo tempo.
Mantenho a calma, medito, rezo, bebo, durmo
Corro, choro, me recomponho e me destruo.
O que tem me acontecido eu só vou saber depois.
Agora estou muito envolvido nessa tarefa de existir.
Abençoado por anjos e atormentado por demônios.
Atrapalhado nos percalços reais e imaginários.
Entretido com os mínimos prazeres.
Tudo isso me toma tudo, tudo isso me custa a minha vida.
Não tenho dois tempos e nem sei me dar certa distância.
Como poderia eu mesmo saber o que será de mim
se exatamente o que sou é essa ignorância?
Estou em alto mar abraçado em um barril.
Há os dias que penso estar bem próximo de uma praia.
Em certas noites solitárias tenho a certeza do meu fim.
Só o tempo vai mostrar, o que por ora não dá para saber.
Em matéria de viver o negócio é boiar.
Principalmente quando o assunto é o que vai ser.
terça-feira, 22 de outubro de 2013
Vida de árvore
Quem já foi uma árvore
Soube o que é ter paciência.
Pediu emprestado o tempo pra si
E foi assim que vingou em resistência.
Ficou plantado no chão como um dois de paus.
Com os galhos pra cima, expandindo a consciência.
Transcendeu o ego e se uniu ao uno divino.
Virou também a fonte, a terra, o sol e o vento.
Sentiu no tronco o infinito pra sempre.
Quem já foi uma árvore
Foi atingido pelo único raio da chuva do dia cinzento sem fim
Entendeu e sentiu o milagre que faz as coisas se transformarem.
Teve uma vida plena e achou tudo maravilhoso em silêncio.
segunda-feira, 21 de outubro de 2013
Viajar
Eu quero ir embora
Pra onde ainda não sei
Aqui eu já não posso
Aqui que não me quer
Deixo tudo e meto o pé
Pra onde não sei bem
Aqui não há de ser
Aqui não me vejo
Já deixei todos avisados
Que num instante eu já parto
Daqui de onde eu falo
Daqui que em breve deixarei
Vou pra outro canto
Aqui não vou bem
Lá talvez eu me encontre de vez
Lá talvez eu seja para o que aqui vim
E sendo assim valha a pena
Quem sabe até mesmo aqui
Mas agora é o momento
De viajar
Aqui já não dá.
Amyr Klink
quinta-feira, 10 de outubro de 2013
Conviver a ser
As coisas acontecem quando não tem outra maneira. Elas
acontecem nos seus encontros, nos pontos onde infinitas retas se cruzam no mesmo
espaço e no mesmo tempo. Na sua órbita, a Terra gira e as coisas que são vivas
nascem, crescem, andam, se reproduzem e morrem. Nesses intervalos, as coisas
acontecem para quem e para além da pretensão de dar sentidos à elas. Para quem
e para além daqueles que querem ver algo acontecer ou dar nome aos
acontecimentos e às coisas. Cada coisa no seu lugar e no seu momento ou nada
acontece. Nesses casos acontece o pensamento, a imaginação, o sonho que também são e
é coisa, que se sucedem e não se tornam. Na sinfonia do universo e na dança do
infinito, uma porção de coisas se cruzam por acaso em sincronismo e acontecem.
E o que tem que ser já é e o que será será.
sexta-feira, 24 de maio de 2013
Carona
Eu levo o meu corpo a passeio
Para qualquer lugar imaginado e possível
Uma hora eu me carrego nas costas
Em outras eu próprio me encarrego de mim
De repouso fico gritando
E vou ficando surdo com o barulho
Às vezes até de olhos fechados
Respiro fundo e me peço carona
Dias e noites atravessando desertos sem fim de camelo
Em outros deslizando em pedras com limo de cachoeiras
Sonhei que podia voar algumas vezes
E tive pesadelos em que não conseguia correr
Para qualquer lugar imaginado e possível
Uma hora eu me carrego nas costas
Em outras eu próprio me encarrego de mim
De repouso fico gritando
E vou ficando surdo com o barulho
Às vezes até de olhos fechados
Respiro fundo e me peço carona
Dias e noites atravessando desertos sem fim de camelo
Em outros deslizando em pedras com limo de cachoeiras
Sonhei que podia voar algumas vezes
E tive pesadelos em que não conseguia correr
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Terra de cemitério
Os pássaros em seus voos, mesmo durante uma viagem de curto
tempo e espaço, observam abaixo uma infinita variedade de tipos, maneiras e
motivos de se estar de fato no mundo. Distante da terra percebem para seu
espanto e deleite, a seriedade que acometem os que ainda não aprenderam a voar.
Esses ao rastejarem, pularem ou caminharem, cavam através da erosão da terra,
trincheiras de verdades absolutas dignas de fiel obediência. A começar pela lei
da gravidade. Ali dentro esquecem-se da grandeza do mundo e se alienam do
universo eterno em múltiplas convicções. Nessa peregrinação uns seguem os rastros
dos outro cavando labirintos de caminhos velhos e conhecidos, onde eles veem o
cerco se fechar por tentarem fechar conceitos. Tais túneis vez ou outra se
cruzam sem que isso altere a fé no caminho. Pelo contrário, a confluência
aumenta o fluxo e este revigorado alonga a sua influência. Outras vezes as
valas se dirigem em paralelo para a mesma direção, mas soterrados um não tem
sensibilidade nem conhecimento do outro. Ainda que tivessem oportunidade, julgariam
o caminho um do outro, na melhor das hipóteses, um engano. Na desconfortável
das hipóteses um erro. E na mais comum das hipóteses uma ameaça. É preciso ter
fé para poder seguir e uma vocação para mineração. Além de uma natural aversão
ao absurdo, à ambiguidade, ao caos, ao acaso, a contingência e ao mistério
atribuído pela atual era do ouro como instinto de sobrevivência. Água mole
pedra dura, tanto bate até que fura. Assim foram feitas as areias das praias
com calma e constância e lá hoje as Marias Farinhas escavam o buraco onde
existem. Da mesma forma o processo erosivo desses rastejos corrói a vida dos
dóceis terráqueos terrestres. Estes se esfolam até finalmente se esfarelarem em
sua cova de morte. Do alto os pássaros observam e fluem no vento em silêncio.
Só eles sabem que não sabemos de nada.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
Renascer
Quero morrer porque já estou morto.
Vivo como se vou ao cinema.
Quando ainda há vontade de ver um filme.
Assisto sentado, sozinho, mudo e ainda assim não vejo a história.
Perco o foco, investigo as câmeras e imagino a produção.
Assisto as emoções das pessoas da poltrona da frente.
Penso no meu próprio caminho e no vazio da sala de madrugada.
Nasci nessa (in)disposição de espírito.
Que ora é curiosa, ora inerte na inconstância.
Sempre em pensamento e nunca realmente viva.
Tudo está para si mesmo e as coisas são e vão,
Tal como pouco importa o que acho ou imagino.
Se desconfio que não sinto, se não me movo, se me calo e só penso.
Por querer apreender tudo, me perco.
Deixo escapar o essencial que para mim seria suficiente.
Quero morrer porque não estou vivo
E preciso fazer a experiência completa .
Vibrar com as energias da Terra e voar quando quiser,
Ter o impulso do fogo e sentir o devir pelos cinco sentidos.
Essa é a vontade única que sobrou para mim.
Desejo que se encerra nele mesmo.
Porque só eu posso levar a cabo essa mudança
Que só a mim diz respeito.
Quero morrer para então renascer.
Estou morrendo para voltar a viver.
sábado, 12 de janeiro de 2013
Alteridade
Eu e eu mesmo que existem em mim.
Aqui dentro para sempre.
Até que a morte nos separe
ou nos reúna em um sonho.
Eu e o outro.
Em carne e unha.
A luz e a sombra.
A coroa e a cara.
Um assiste o outro na ação
de se perceber observado.
O outro comporta o um
e também o contrário
nesse confinamento forçado.
O consciente e o inconsciente
descendo ralo abaixo em espiral,
desaguando na minha alma e no meu corpo.
Se reconciliando e se revoltando contra o meu espírito.
O espírito que também é meu.
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Modernidade
O Burro segue seu caminho.
Em direção à cenoura pendurada na altura de seus olhos.
A cenoura está amarrada no rabo de um cão.
Que gira em seu próprio eixo com ansiedade e convicção
porque seu dono chega de mais um dia de trabalho.
Sem dar muita atenção, este liga a televisão.
Enquanto o rato assiste e continua a girar a roda de sua gaiola.
Em direção à cenoura pendurada na altura de seus olhos.
A cenoura está amarrada no rabo de um cão.
Que gira em seu próprio eixo com ansiedade e convicção
porque seu dono chega de mais um dia de trabalho.
Sem dar muita atenção, este liga a televisão.
Enquanto o rato assiste e continua a girar a roda de sua gaiola.
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