Eu levo o meu corpo a passeio
Para qualquer lugar imaginado e possível
Uma hora eu me carrego nas costas
Em outras eu próprio me encarrego de mim
De repouso fico gritando
E vou ficando surdo com o barulho
Às vezes até de olhos fechados
Respiro fundo e me peço carona
Dias e noites atravessando desertos sem fim de camelo
Em outros deslizando em pedras com limo de cachoeiras
Sonhei que podia voar algumas vezes
E tive pesadelos em que não conseguia correr
sexta-feira, 24 de maio de 2013
sexta-feira, 10 de maio de 2013
Terra de cemitério
Os pássaros em seus voos, mesmo durante uma viagem de curto
tempo e espaço, observam abaixo uma infinita variedade de tipos, maneiras e
motivos de se estar de fato no mundo. Distante da terra percebem para seu
espanto e deleite, a seriedade que acometem os que ainda não aprenderam a voar.
Esses ao rastejarem, pularem ou caminharem, cavam através da erosão da terra,
trincheiras de verdades absolutas dignas de fiel obediência. A começar pela lei
da gravidade. Ali dentro esquecem-se da grandeza do mundo e se alienam do
universo eterno em múltiplas convicções. Nessa peregrinação uns seguem os rastros
dos outro cavando labirintos de caminhos velhos e conhecidos, onde eles veem o
cerco se fechar por tentarem fechar conceitos. Tais túneis vez ou outra se
cruzam sem que isso altere a fé no caminho. Pelo contrário, a confluência
aumenta o fluxo e este revigorado alonga a sua influência. Outras vezes as
valas se dirigem em paralelo para a mesma direção, mas soterrados um não tem
sensibilidade nem conhecimento do outro. Ainda que tivessem oportunidade, julgariam
o caminho um do outro, na melhor das hipóteses, um engano. Na desconfortável
das hipóteses um erro. E na mais comum das hipóteses uma ameaça. É preciso ter
fé para poder seguir e uma vocação para mineração. Além de uma natural aversão
ao absurdo, à ambiguidade, ao caos, ao acaso, a contingência e ao mistério
atribuído pela atual era do ouro como instinto de sobrevivência. Água mole
pedra dura, tanto bate até que fura. Assim foram feitas as areias das praias
com calma e constância e lá hoje as Marias Farinhas escavam o buraco onde
existem. Da mesma forma o processo erosivo desses rastejos corrói a vida dos
dóceis terráqueos terrestres. Estes se esfolam até finalmente se esfarelarem em
sua cova de morte. Do alto os pássaros observam e fluem no vento em silêncio.
Só eles sabem que não sabemos de nada.
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