Quero morrer porque já estou morto.
Vivo como se vou ao cinema.
Quando ainda há vontade de ver um filme.
Assisto sentado, sozinho, mudo e ainda assim não vejo a história.
Perco o foco, investigo as câmeras e imagino a produção.
Assisto as emoções das pessoas da poltrona da frente.
Penso no meu próprio caminho e no vazio da sala de madrugada.
Nasci nessa (in)disposição de espírito.
Que ora é curiosa, ora inerte na inconstância.
Sempre em pensamento e nunca realmente viva.
Tudo está para si mesmo e as coisas são e vão,
Tal como pouco importa o que acho ou imagino.
Se desconfio que não sinto, se não me movo, se me calo e só penso.
Por querer apreender tudo, me perco.
Deixo escapar o essencial que para mim seria suficiente.
Quero morrer porque não estou vivo
E preciso fazer a experiência completa .
Vibrar com as energias da Terra e voar quando quiser,
Ter o impulso do fogo e sentir o devir pelos cinco sentidos.
Essa é a vontade única que sobrou para mim.
Desejo que se encerra nele mesmo.
Porque só eu posso levar a cabo essa mudança
Que só a mim diz respeito.
Quero morrer para então renascer.
Estou morrendo para voltar a viver.