domingo, 26 de dezembro de 2010
Sobre alguns pesos e algumas medidas
Superficial na crosta e profundo no núcleo.
Imbecis são leves e superficiais,
E babacas são profundos e pesados.
Meus bons amigos são leves e profundos.
Há de se espelhar em alguns deles.
Há de se emagrecer as percepções
E engordar os entendimentos.
quarta-feira, 15 de dezembro de 2010
Linnie McCallister: Kevin, you're what the French call "les incompetents."
"If I could have it back
All the time that we wasted
I'd only waste it again
If I could have it back
You know I'd love to waste it again
Waste it again and again and again"
The Suburbs (Continued) - Arcade Fire
segunda-feira, 13 de dezembro de 2010
Venga
mais realidade poética
surpresa boa, inverosemilhança, surrealismo real
menos solidão, menos multidão
mais mundo e loucura
A onda suave
o cheiro do novo
a saudade com horas contadas
o dinheiro achado no bolso do casaco fodido
Daí então,
anunciado na fusão (des)agradável desses quatro elementos:
nas águas dos cafés da tarde recém passados
nos ares daqui perfumados com mafu queimados
nas terras dessas praias poluídas
nos fogos requentando as comidas
Daí já vem.
domingo, 12 de dezembro de 2010
a pig in a cage on antibiotics
let it here or keep away
now quit it or let it play
not giving a fuck by the way
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
If you´re feeling sinister...
domingo, 14 de novembro de 2010
É...
sábado, 6 de novembro de 2010
Torradas com geléia
"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava
Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português"
(Belchior)
domingo, 24 de outubro de 2010
dimanche matin
Alors, ne souris pas.
Non que je sois un menteur,
(ça c´est vrai et faux en même temps)
Mais le bonheur e la mauvaise heure sont très proches dans moi.
sábado, 9 de outubro de 2010
04:30 am
Ilumine meu caminho
Afugente os assaltantes
Na volta para o ninho
Que esse retorno emocionante
Noite adentro sozinho
Sirva de encontro lancinante
Com a última taça de vinho
Me leve embora daqui em diante
Prepare meu banho, minha cama e meu dia seguinte
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Bruno
Quebra esse hiatus e revela sua positividade e viço.
Quero ouvir sua gargalhada
Seu jeito solto, seu olhar curioso, suas histórias de vida.
A sua música muda, seu filme fixo, seu sabor neutro.
No conforto do estar, me mostra por completo.
Há mundos desconhecidos, revele o seu.
Por trás desse sorriso, essa voz mansa, e essa vontade de viver.
Tem algo raro, das raras coisas do agora, que vale a pena tomar nota.
Quero ver você.
Apareça.
terça-feira, 5 de outubro de 2010
Só a bailarina que não tem...
Há sustos, sorrisos e tremores
A ponta do dedão lateja e os pés se curvam
Tentam se fechar como fazem as mãos
Perceba as veias em profusão,
Bem como os calos e feridas sob curativos.
Ainda assim há graça e erotismo enquanto gira no palco
Quando tira sua meia, enrolando-a na perna, no fim do dia
E ainda mais quando respondem à essas carícias.
sábado, 25 de setembro de 2010
Love songs
sexta-feira, 24 de setembro de 2010
the best years of our lives
domingo, 12 de setembro de 2010
Neighborhood
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
Exit
Aos vândalos a minha autopreservação
Aos imbecis uma reflexão goela abaixo
À caretice a minha imoralidade
À reunião o meu isolamento
À despedida o meu suspiro
Ao arrependimento o aprendizado
Ao sol o vento da chuva que cairá logo mais
A esses a minha decepção, repúdio e exclusão
Ao aniquilamento os seus louros como merecimento
domingo, 29 de agosto de 2010
You´re sleeping in a submarine...
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
I like the peace, in the backseat
domingo, 15 de agosto de 2010
Anguish
Volúvel, hoje é por isso para amanhã ser por aquilo.
Sem previsão. Sem escapatória. Sem culpabilidade.
Convive-se com ela. Aceita ignorando-a e/ou embebedando-a.
Cobranças, nostalgia, comparações e estimativas
Mesmo na ignorância e especialmente na ignorância.
Lá cogita tudo que foi e não é, ou que poderia ser e não será.
A paz é química, alienação ou negação.
Pessoas tranquilas não existem.
São invenções da publicidade dos fabricantes de cereais e de benzodiazepínicos.
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Chelsea girl
Me sufocaria de frieza, impotência e tédio proposital
(Apesar de nunca saber quão interessante persona um dia fora)
Não é mais amor, nem obssessão patológica
Mas também não é ódio, apesar do frio na barriga ocasional.
Não convenci, mas me convenci. Eis a minha ventura.
O prazer agora é outro, muito embora não fuja à minha natureza.
Sou um voyeur esperando seu sucesso ou fracasso.
Daqui te olhando, quando nada melhor eu tiver para fazer.
domingo, 1 de agosto de 2010
Depoimento para Denise
Mas com as impressões e sentimentos
Essa moça é a de essência e de atmosfera
Do turbilhão de acontecimentos
Paralisa o tempo e o espaço
Para eu digerir, suprimir, incluir
Admitir e conferir o que for preciso
Inspira-me, diverte-me e amplia-me
Nosso caso é antigo, de outras vidas que eu não creio.
A ligação já foi feita
E eternalizada a cada novo encontro.
sábado, 3 de julho de 2010
Regras da ABNT
Do lirismo prolixo
Do lirismo de monografia, dissertação de mestrado com dedicatória,
Espaçamento 1,5 e agradecimento ao Sr. orientador
Estou farto do lirismo que pára para notas de rodapé
E sugere referências bibliográficas hipócritas
Abaixo o método científico!
Estou farto do lirismo ABNT
Burocrático
Tedioso
Indireto
De todo lirismo que escreve 10 laudas em Arial 12
Mas enrola até 50
Será constrangimento o que eu disser
Aos vômitos, em linguagem chula, sem conclusão,
Ou antes, somente conclusão sem introdução e um desenvolvimento?
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos filósofos de botequim
O lirismo difícil das teorias paridas em THC
O lirismo livre de Clarice Lispector
- Não quero mais saber do lirismo pretensioso!
domingo, 20 de junho de 2010
Good god
The tree grows with apples just born rotten
As they fell, dead animals eat these fruits
And then sick black birds feed themselves with these creatures
For just get sicker and die from bad smell and also intoxication
What can anyone say about the decomposers?
They’ll eat the black bird’ bodies without conscious of the dirtiness
And they’ll pass away to make the ground richer
Like you, like me, and all the others
But consciously.
terça-feira, 15 de junho de 2010
Fobia Social
E para onde vai esse rubor ou palidez de mãos frias e embrulho no estômago?
Vem do nosso umbigo.
Da nossa mentira interor que impulsiona a gente idealizada.
O complicado é não desconstruir essas imagem ou transparecer a podridão.
O risco do personagem vacilar se torna uma possibilidade real.
No remoer desse risco ele toma propoções gigantescas
Caso de vida ou morte
Uma questão de segurança nacional.
Essas pessoas não me podem fazer mal.
(repete mil vezes)
Não enquanto eu não tiver puro!
quinta-feira, 10 de junho de 2010
vinte e três
Nada tem de bondade nesse senhor que a humanidade atribui ações milagrosas e balsâmicas.
Essas não são frutos dele, e sim do hábito.
Ele é um sado debochado.
Quando muito dele se precisa, ele se vai depressa.
E nos menores instantes que seja de tédio ou mal estar ele se prolonga à eternidade.
O tempo é um construtor de monstros, um destruidor de lares, uma borracha fraca, mas constante, de memórias.
O tempo é um assassino.
Levará com ele a existência de tudo e de todos para o limbo da não-essência.
terça-feira, 1 de junho de 2010
A história de Celeste
Cytoleste era seu apelido, depois de inúmeros comprimidos de Cytotec engolidos.
Todos eram nomeados por Celeste.
O critério era ou a novela das 21 horas, ou um personagem de um filme ou às vezes a junção de “Celeste” com o seu atual romance.
Cytoleste perdia peso, saúde, vontade de viver.
Sempre enjoada parava na farmácia a fim de curar de suas náuseas.
- Tem muita criança aí, Celeste! Abre a boca! Estou vendo umas perninhas...
- Celeste, toma rumo na vida!
-Celeste, isso não é vida!
-Celeste, amor da minha vida!
Cytoleste e seus bebês. Celeste e seus fetos disformes. Eles definhavam. A fila não se via mais final e Celeste estava perto do fim.
Após sentir uma pontada na barriga e fazer um sinal da cruz, Celeste morreu com João na barriga. Não o primeiro, mas o terceiro e último João dos 55 filhos que cruzaram o corpo de Celeste rumo ao vaso sanitário.
quarta-feira, 26 de maio de 2010
shuffle
- Você quebrou o ritmo!!!
- Não tem essa de quebrar ritmo. Era pra ser aleatório.
- Exatamente. Mas você padronizou.
- Mas na aleatoriedade estamos sujeitos a isso.
- Qual?
- Fazendo de forma aleatória é de certa maneira o ritmo.
- Não é bem assim.
- É sim. Se repetirmos isso eternamente se torna um padrão.
- Talvez você tenha razão. Mas como fugir dessa intenção?
- Acho que é só impedir que os outros percebam...
- Ah sim. Continua então!
Parasitismo
Que queria a pedra embaixo da árvore?
Queria que a árvore não fosse cortada.
Nada tinha de ligação uma com a outra.
Mas não tendo árvores, talvez não haveria mais pedra.
Um toco e uma pedra poderiam ainda servir de assento.
Esse era um pensamento positivo da pedra.
Mas quem se habilitaria a manter os dois ali no chão?
O propósito da árvore já tinha acabado.
O da pedra nunca existiu.
A árvore foi derrubada antes de qualquer especulação otimista da pedra.
E a pedra foi removida.
Uma vez cortada, a árvore virou mesa de centro.
Uma vez retirada, a pedra foi jogada no rio e nascem sobre e entre ela, lodo e algumas plantas aquáticas.
Havia na pedra uma saudade da árvore. Da sombra. Da brisa. Das folhas que caiam da árvore sobre ela no outono.
Mas havia na pedra também o medo.
O medo da morte das plantas aquáticas.
sexta-feira, 7 de maio de 2010
Vida de inseto
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Humour:Amour
Os outros são só de amor
Capaz de nem todos os "uns" serem de ódio puro
Mas sim um ódio em estar amando
Ou talvez ódio por ciúme do objeto amado
Sou pesado para o amor me trazer leveza
Guardo algo que não existe
Guardo o contrário do rancor
Não entendo porque choro, grito, não como e nem durmo
Se em 24 horas serei amor de novo
Meu prato de vingança tem que ser servido quente
Do contrário perco o apetite
Não é memória fraca, é só coração mole
Não é sangue de barata, são só os outros amores
O ódio definitivamente não me completa
Só o amor.
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Teenage Angst
Uns dizem ficar na cabeça...Mas dentro?
Outros afirmam que não, é no peito que ele mora.
Não acho de jeito maneira!
Já bebi inúmeras doses, fumei incontáveis cigarros
Engoli milhares de comprimidos,
E dediquei uma juventude no mundo de Morfeu.
Analistas não me fazem nem cócegas, já bati com a cabeça na parede.
Para hoje chegar a conclusão de que não tenho um botão desses .
Nasci com defeito.
domingo, 2 de maio de 2010
TIPS
Dê vazão aos seus instintos
Liberte-se
Saia do pré-destinado caminho
Revele-se
Já conheço a imagem deste negativo
Ame-se
Obedeça às suas vontades
Ilumine-se
À luz do que já está claro
Abra-se
A vida não é eterna
Analise-se
O que está por dentro é o que conta
Expresse-se
Há ainda mais beleza e bondade
Foda-se
Não se interesse pelo o que eles falam
quarta-feira, 21 de abril de 2010
La douce humanité
Está ao meu redor. Confunde-se com a minha áurea. Minha indolência é leitosa. Forte por dentro e fraca por fora. Na cabeça planos e na vida sono
É literário esse estado de paixões, desejos e instintos. Platônico na essência.
Um dia Napoleão, no outro Machado de Assis e amanhã François Truffaut.
Tem coisa boa vindo e sou eu quem nota. A vida é boa, mas o sentido de percepção doente. A vida voa. Uma vida jogada fora não é uma vida jogada fora ao se perceber jogando-a fora.
Perdão aos africanos, aos indigentes, aos doentes, aos celibatários, aos presidiários, às vítimas de Hiroshima, Nagasaki e também Chernobyl. Mas por enquanto não posso gozar deste espetáculo.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Carta ao Sr. R. A. e à Sra. T.B.
Rio de Janeiro, 14 de Abril de 2010
Vocês esperam pelo pior. É visível nos seus olhos o pânico e a piedade compartilhada sem razão. O problema é que eu não posso os confortar. Meus argumentos sempre soam como justificativas cínicas, meras desculpas esfarrapadas e que reiteram ainda mais meu suposto desarranjo. Não os culpo, nem muito menos me ofendo. Pelo contrário, vejo nesse equivocado terror uma prova de amor involuntária e até mesmo irônica. Se fosse possível uma volta ao tempo, dessa vez mais cuidadosa, perceberiam que o pior não está por vir, essa fase, por enquanto, é passado até onde eu saiba. O mal de outrora, com certeza existiu de fato, entretanto despercebido ou vivenciado na negação, como se o debate o alimentasse. Por favor, entendam o meu lado. Estou numa camisa de força, em um carro a caminho de um manicômio. Se me debato, faço jus ao meu diagnóstico e veriam nisso a certeza de terem feito a coisa certa. Mas se por outro lado fico apático, dou provas de conformação de um estado no qual eu não me encontro. Como proceder nesse caso? O procedimento é não proceder. É difícil dizer que larguei essa loucura de mão. Nessa história não há culpados e nem vítimas. Talvez não haja nada. Pensemos no futuro. Use suas orações para que estejam realmente errados. Por mim, por vocês e por todos os outsiders do mundo. Mas nesse momento sou eternamente grato pela preocupação e espero sinceramente ser motivo de orgulho um dia. Amo e amarei vocês para sempre.
"Mother I tried, please believe me
I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.
Isolation, isolation, isolation."
(Ian Curtis)
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Mulheres Noturnas: Lívia
Lá vinha ela descendo a rua. A bolsa pendente em um braço e os sapatos pendurados nas mãos do outro. Passos irregulares, como que desvia de pedras pontiagudas para não machucar seus pés já tão castigados pelos sapatos essa noite, ou mesmo evitar que a meia calça puída e esburacada por cigarros alheios se desfaça de vez antes de chegar em casa.
De chofre ela para e procura um espelho na bolsa. A busca bêbada desse objeto e a quantidade de coisas na bolsa resultam numa procura sem fim. Quando encontra o bendito espelho, acha melhor não conferir seu estado a essa altura da madrugada. Mas por coincidência ela encontra perdido no fundo da bolsa três reais e cinquenta centavos. Coincidência porque o botequim logo ao lado anuncia garrafa de cerveja por exatos três reais e cinqüenta centavos, e não tendo mais nada a perder essa noite, além dos tais três reais e cinqüenta centavos, Lívia viu nisso um chamado esotérico, ou mesmo uma lógica cabalística talvez, e decide entrar e pedir uma garrafa de cerveja.
Adentrando ao molambento recinto, ela pacientemente esperou dois minutos para ser atendida. Diz-se dois minutos, mas na ebriedade essa metragem de tempo tão artificial perde o seu caráter preciso. De modo que ao ser atendida, ela fez uma cara de quem ou esperou muito tempo ou não esperou nada, só podendo ela saber com precisão. Puxou um cigarro do bolso e quando a labareda do isqueiro estava frente a frente com seu nariz, não pode deixar de reparar então no cartaz do outro lado do estabelecimento. Pendurado ali
Arrancou então a garrafa do balcão e juntas se dirigiram para o meio fio. Lá sentou e saboreou o gosto da noite perdida misturada ao sabor especial da última cerveja da noite. Nesse meio tempo, não deixou de reparar numa curiosidade absurda. Os bares ao longo da avenida em perfeita sincronia fecharam suas portas. O descer dos portões de ferro, um após o outro, como num efeito dominó, cada qual emitindo uma nota diferente com tamanha perfeição, que se houvessem bares o bastante, seria possível formar uma bela melodia. Melodia essa que serviria de trilha sonora para o que via ao seu redor. O desfile de prostitutas e travestis. Os adolescentes perdidos. Os jornaleiros já de pé em suas bicicletas. Os taxis passando a mil por hora...
Ao fim do espetáculo, e por assim dizer da cerveja e da última tragada, Lívia se levantou e novamente tentou entrar no bar. Tentou porque não reparou quão cheio o botequim se encontrara. Talvez não estivesse nesse estado momentos antes de se sentar na sarjeta, e possivelmente pelo fim do expediente dos donos dos outros bares, os clientes daqueles para ali se dirigiram. Tentou se enfiar no meio das pessoas para atingir o balcão e pagar o que devia. Empurrava de um lado, empurrava de outro, mas nada parecia mobilizar aquela multidão que se comunicava aos cochichos, que somados tornava-se um estardalhaço. Na sua honestidade insistente, com muito esforço esticou o braço e o máximo que pode foi enfiar sua mãozinha com unhas descascadas entre o labirinto de vãos formados pelos braços e corpos à sua frente. Foi quando jogou três moedas de um real e outra de cinqüenta centavos na direção do que parecia ser o balcão. Colocou o casco e o copo em um cantinho e continuou seu rumo.
Alguns passos mais a frente, já se preparando para atravessar a rua, ela sente uma mão repousar sobre seu ombro. Girou o pescoço já se preparando pra enxotar algum bêbado, ou qualquer desses malucos da madrugada, que ela tanto atraía. Mas não era um desses tipos desta vez. Era o dono do bar. Enquanto uma mão apoiava em um ombro da moça, a outra era estendida, num claro pedido de pagamaneto. Ora, mas qual pagamento? Ela já tinha pago o que tinha consumido. Que abuso era esse a essa hora do dia? Não deu atenção ao homem e viu que já era possível atravessar a rua. Seguiu
- O que você quer de mim? Eu já paguei o que devia.
- Ah é? Quando?
- Não consegui chegar até o balcão. Mas ainda assim joguei as moedas para dentro do bar.
- Isso é o que você diz, eu não vi moeda nenhuma.
Ficaram nesse bate-boca até que Lívia decidiu sair andando, uma vez que aquele papo não chegaria a lugar algum, e nem ela tinha mais dinheiro para oferecer de bom grado, apenas pra dar um fim àquela situação ridícula. Começou a andar rápido, e os passos atrás dela também, quando foram vistos estavam os dois “correndo”. Correndo entre aspas mesmo, porque ela com seu fôlego de fumante, carregando os sapatos na mão, e bolsa no ombro, e o homem grande e gordo, era mais um padeiro português, com direito a barriga, bigode e caneta atrás da orelha, não praticam o que se chama de corrida. Quem os via poderia até desconfiar que estivessem voltando da praia, ainda praticando jogging, se não fossem as roupas pouco apropriadas. Duas voltas no quarteirão e essa cena terminou com o cansaço mútuo dos competidores.
- Eu desisto disso! Não tenho dinheiro, olha na minha bolsa. Já disse que paguei com minhas últimas moedas – Disse ela ofegante.
- Eu acredito
Lívia cansada da noite, da corrida e dessa suposta dívida esdrúxula, acompanhou o homem até o bar. Pedindo licença aqui e ali aos clientes que nem se manifestaram com toda a cena anterior, conseguiram chegar dentro da área de atendimento. O homem indiciou o que era pra ser feito, alertou para alguns truques domésticos, vícios dos objetos que só o dono de uma cozinha é capaz de notar, e a moça obedeceu-o calada com uma resignação indolente. Queria acabar logo com essa história. Queria só ir pra casa e descansar. E até poderia dizer que queria lavar a louça, se isso agilizasse mesmo esse processo. O problema é que o dia estava amanhecendo. As pessoas não iam embora. O homem não achava ainda que era o suficiente. E ela continuava pagando a sua dívida de três reais e cinqüenta centavos.
O relógio ia dar 10 horas da manhã. Lívia irritou-se e perguntou ao homem:
- Quando vou poder ir embora? Quando essa gente vai embora?
- Essa gente não vai embora nunca. Eles moram aqui assim como eu. – Disse o dono do bar com uma calma que delimitava sua superioridade em relação à sua atual subalterna.
- E como consegui entrar nesse bar?
- Você entrou pela porta da cozinha. Eis o mistério. Agora pega suas coisas e vá embora. Pela porta da cozinha. Ficarei com pé esquerdo do seu sapato.
Lívia obedeceu. Foi lavar as mãos na pia, pegou sua bolsa, e o pé direito do seu sapato. Só então percebeu o quão estranho era aquele estranho ficar com um pé do seu sapato.
- Por que você vai ficar com o pé esquerdo do meu sapato?
- Talvez você precise de alguém para lavar sua louça quando você estiver de ressaca logo mais. Você tem aqui um crédito e este pé o meu pagamento.
- Sendo assim, fique com o direito também.
Antes de sair pela porta da cozinha, reparou que suas moedas estavam jogadas ainda no chão, próximo ao freezer enferrujado. Abaixou para pegá-las e foi embora sem olhar para o homem. Finalmente deixou pra trás aquela falação sem fim, aquele hálito de álcool, e as moscas matinais que se proliferam em ambientes onde cervejas velhas foram derramadas. Na esquina próxima estava um pedinte. Para não correr o risco de não conseguir voltar pra casa de novo, ela deu seus três reais e cinqüenta centavos ao mendigo. E seguiu seu caminho sob sol e segurança rumo à sua cama, mas pensando que parte da sua doação poderia comprar um café na padaria embaixo do seu prédio.
quinta-feira, 1 de abril de 2010
I me mine, I me mine, I me mine
É a falta de viço, a oscilação de auto-estima, a inadequação
É o ceticismo, o pessimismo, a indiferença
É a matemática, o abismo, a doença
É a realidade adicionada a tudo isso que não permite ser quem eu sou.
terça-feira, 30 de março de 2010
Niterói, 14 de Maio de 2009
Niterói, 14 de Maio de 2009
Envolto nas paredes e seus azulejos. Pensei no futuro, no tempo, no escuro, no ganhar e perder de tudo.
Acreditei nas minhas ideiais
Nas bolhas do copo
No vestido solto
Nas cadeiras sem gente
Nas carnes sem dente
Pensei no vai e vem dos burros, nos fiscais da natureza e seus saltos.
Depois de vários copos de entorpecentes, pensei se sou eu ou uma janela de mim, se sou ou não, uma sucessão pobre se sins.
Envolto nas paredes dessa caixa de um bar, de um lar que me envolve, sou quem sou sem ser, e que quer, sem querer...
Me trago assim por esses caminhos estranhos, na contramão do meu destino que me espera, na solidão de um Eu que mais sonha no sonho na escuridão de quem espera.
Assim sou eu.
quarta-feira, 24 de março de 2010
Yo-ho-ho, e uma garrafa de rum
Levava tudo que para mim era importante.
E se enganaria.
Se tivesse vingança, menos mal.
A perturbação vem do laconismo e a indiferença.
E me perdoaria.
Se fosse escolher, seria um artista.
Te transformaria em personagem. Riria de você e de mim.
E quando acordasse estaria dentro de uma garrafa vazia de rum.
E os rins numa banheira me tiraria.
terça-feira, 23 de março de 2010
Suspiro Sutil
"Arte de Fumar
Desconfia dos que não fumam:
esses não têm vida interior, não tem sentimentos.
O cigarro é uma maneira sutil, e disfarçada de suspirar"
Mário Quintana
sexta-feira, 19 de março de 2010
Shirley Remédios precisa de ajuda!
"Tive alguns problemas com a polícia federal. Apurei umas notícias do dossiê gato preto e estou ameaçada de deportamento. Deram-me 2 semanas para sair do país. Para piorar meu infortúnio eu não tenho dinheiro suficiente para a viagem. O superior do departamento de serviços excepcionais sugeriu-me que eu me tornasse travesti e partisse para Itália. Ele inclusive me indicou um terceiro que se engajaria por mim desse processo e de todo o ciclo burocrático em volta. Entretanto, nasci mulher. De maneira que peço a doação de qualquer quantia para mudar para o sexo masculino com Roberto Rey, o dr Hollywood, depois virar travesti e só então partir para meu triste fim nos climas temperados da região de Toscana, na península itálica. Tudo isso em 2 semanas.
Conto com sua colaboração.
Shirley Remédios."
terça-feira, 16 de março de 2010
Schizophrenia is taking me home
segunda-feira, 15 de março de 2010
Stalking...
sexta-feira, 12 de março de 2010
Sexta-feira 12
The cold hot Rio weather
The search for the so called Endorphin
RUN RUN RUN
The music of past insane nights
Shouting in your years
Reminding the taste of alcohol and the smoke
RUN RUN RUN
The kids waiting for their vans to go to school
The Backpacks on shoulders
And bored gazes on their faces
RUN RUN RUN
The sun, the vitamin D, the almost empty streets
The workers arriving in the uncountable buildings in construction
While old ladies working out to live a little bit more
RUN RUN RUN
The smell of coffee and fresh bread, the retired reading the news
The dogs taking a ride with their owners
The drunken men trying to get home since last night
RUN RUN RUN
The sun gets hotter, the sweat, the weariness
Time to go!
The shower, the breakfast, the sleep
Life’s just begun. For the others.
Never for you.
There's definitely, definitely, definitely no logic to human behaviour
Foi embora. Se arrependeu. Voltou atrás. E encontrou o vazio.
O vazio do arrependimento.
Entre Paris e Londres, escolheu Jaguariúna.
No que chegou na rodoviária, decidiu sentar e esperar.
Esperar o próximo ônibus de volta pra casa.
domingo, 7 de março de 2010
Fluoxetina
Se livra do Pânico, mas ainda corre o risco de morrer
Se livra da Anorexia, mas corre o risco da obesidade
Se livra da Histeria, mas corre o risco de se tornar um viciado em Crack
Se livra do TOC, mas cultiva hábitos igualmente inúteis
Se livra da Fobia Social, mas não dos seus semelhantes
A gente não se livra do Nascimento e corre o risco do Suícidio
Ou pior: da Reencarnação!
sábado, 6 de março de 2010
U.F.O.
Laying down on the beach
Why are they looking
for us?
Here in this spaceship
Whith Marte as neighboor
We can´t stay here
anymore
Hey, little demon
Do you see what I see?
Why did that light move
so slow?
Maybe it was a shooting star
or even a satelite
But I´m afraid it was
a U.F.O.
Please Mr. Alien
You can abduse me
But don´t make me pregnant
so soon
It was a pleasure
Dear human
But your son´s already born
on the moon
sexta-feira, 5 de março de 2010
Idade de Gêmeos...
Superior às noções da física
Um tempo além das leis da relatividade
Preciso de um tempo metafísico
O tempo vago que me é emprestado está vazio
Por hora, não sei como recheá-lo
Preciso de tempo para fazer tudo em quanto há tempo
mesmo tendo e não tendo o tempo que eu quero
Ontem, hoje ou amanhã
Mas agora,
nesse momento,
Eu preciso desse tipo de tempo
Ou dar um tempo de mim.
I got dirty boots!
Que chão pisara antes de te conhecer?
Em quem pisou? Poderosos, submissas, drogados, prostitutas, homens de família?
Por cima deles, inúmeras calças com barras puídas repousaram...
Eles não têm memória, esquecem de amarrar seus cordões.
Também não sabem se virar, em que buraco entrar e sair, de forma cruzada ou não.
Ignoram o que muitos queriam saber.
Na sua inocência, embaixo da cama depois de dias perambulando a esmo,
Não se deram conta dos ruídos, dos movimentos, dos gritos, espasmos e orgasmos.
Hoje, de solados gastos, eles vão pro lixo.
Sem me contar nada da sua vida.
quinta-feira, 4 de março de 2010
Página em branco
Está diante de mim.
As letras, palavras, frases e pontos estão todos lá.
Os parágrafos, travessões e reticências também.
Todos ocultos na brancura do papel ou dentro da caneta.
Num insight, dessa pálida imensidão,
lá surgem eles em tinta azul.
Há uma página em branco dentro de mim.