sexta-feira, 10 de maio de 2013

Terra de cemitério

Os pássaros em seus voos, mesmo durante uma viagem de curto tempo e espaço, observam abaixo uma infinita variedade de tipos, maneiras e motivos de se estar de fato no mundo. Distante da terra percebem para seu espanto e deleite, a seriedade que acometem os que ainda não aprenderam a voar. Esses ao rastejarem, pularem ou caminharem, cavam através da erosão da terra, trincheiras de verdades absolutas dignas de fiel obediência. A começar pela lei da gravidade. Ali dentro esquecem-se da grandeza do mundo e se alienam do universo eterno em múltiplas convicções. Nessa peregrinação uns seguem os rastros dos outro cavando labirintos de caminhos velhos e conhecidos, onde eles veem o cerco se fechar por tentarem fechar conceitos. Tais túneis vez ou outra se cruzam sem que isso altere a fé no caminho. Pelo contrário, a confluência aumenta o fluxo e este revigorado alonga a sua influência. Outras vezes as valas se dirigem em paralelo para a mesma direção, mas soterrados um não tem sensibilidade nem conhecimento do outro. Ainda que tivessem oportunidade, julgariam o caminho um do outro, na melhor das hipóteses, um engano. Na desconfortável das hipóteses um erro. E na mais comum das hipóteses uma ameaça. É preciso ter fé para poder seguir e uma vocação para mineração. Além de uma natural aversão ao absurdo, à ambiguidade, ao caos, ao acaso, a contingência e ao mistério atribuído pela atual era do ouro como instinto de sobrevivência. Água mole pedra dura, tanto bate até que fura. Assim foram feitas as areias das praias com calma e constância e lá hoje as Marias Farinhas escavam o buraco onde existem. Da mesma forma o processo erosivo desses rastejos corrói a vida dos dóceis terráqueos terrestres. Estes se esfolam até finalmente se esfarelarem em sua cova de morte. Do alto os pássaros observam e fluem no vento em silêncio. Só eles sabem que não sabemos de nada.


 

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