quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Ser

O medo e a vontade
Da vida e da morte
Apego e liberdade
Ao azar e à sorte
O meu melhor amigo
Me instiga a querer
Ele em mim tem abrigo
Não me deixa morrer
Já meu arqui-inimigo
Também ele sou eu
Que me culpa e me pune
Por tudo que é meu

Acordo com um
E deito com o oposto
Os dois e nenhum
Dentro do mesmo rosto
Nenhum e os dois
Em mim todo exposto

domingo, 8 de novembro de 2015

Saudades de Casa

Minha casa está aqui
Justo onde sou estrangeiro
Onde eu moro é logo ali
E também o meu passeio

Todo dia eu regresso
E não me encontro no lugar
Toda hora me despeço
Como se desse pra voltar

Por não ter pra onde ir
Permaneci e não parti
Viajei e não voltei
Pelas coisas que deixei

Minha casa está aqui
Eu carrego ela nas costas
Impossível sair de si
Ir atrás de mais respostas

No corpo eu convivo
Com as marcas da emoção
No Cosmos coexisto
Com minha imaginação

Eu sou o meu lar
Alojado na Mãe-Terra
Aprendendo a amar
Enquanto por aí erra...

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Presente de grego

Quando, então, a magia
Exilada foi pela ciência
Lançou um feitiço-ironia
Em nossa inconsistência
Inverteu os papéis
Fez da sorte revés
Nos incutiu
O apaixonar-se pela razão
E nos persuadiu
A racionalizar toda paixão

quarta-feira, 1 de julho de 2015

A morte

No abismo ecoa vida de todos os tipos
Tem o grito dos que se jogam
E também o choro dos recém-nascidos

sábado, 27 de junho de 2015

Aiôn

Brotamos da noite e do dia
Do sonho e vigília
Tristeza e alegria
Ciência e magia
Com partes machos
E partes fêmeas
Entre instinto
E consciência
Concebidos pelo pensamento
E unificados pelo sentimento
Mesclados entre o real e o onírico
Arco-íris entre matéria e espírito

quinta-feira, 19 de março de 2015

Coração Alada

Coração ligada,
Beat acelerado
Mas voa com calma
Pra viajar  mais longe
Levando corpo e alma
Seu desejo escolhe onde
Voa soltinha, borboletinha
Venha hoje à minha casa
Seja você minha madrinha
Quero que me conte seu segredo
De como faz pra bater asa

para Roberta Ramos

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Ventamar

De cara franzida ou com a vista embaçada,
A tarde é de luz tão intensa
Que assopra as sombras juntamente com as ondas.
Mas que não queima, acalma e nem nada.
Por conta da ventania na praia.
Vento no mar
Areia e ar.
O Oceano é um mistério
E a terra firme o critério.
Todos os dias, um homem quase se afoga.
Sobrevivendo, abraça o chão e se põe a pensar.
Outro vem do interior lá de bem longe.
Há horas ou dias, para aqui enfim descansar.
Existiria mais propício habitat
Do que o precipício do limiar?
Talvez. Mas há uma ventania na praia
E horizontes em todo lugar

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Temporal

A morte chegará sempre cedo.
Para os que dela nasceram sem medo.
Veja! Aqui está ela!
Nos paridos do seu finado ventre.
Embora não tenha ninguém doente.
Vai surgir numa tomada de consciência súbita.
Ainda que não haja ser algum em suas últimas.
Implodirá cristalina e bela.
Em formato de raio, bem nítida, sincera.
Seremos cegados então por um clarão.
E logo ensurdeceremos com um trovão.
Ela é a epifania da lágrima e da chuva.
Será sempre precoce, mas também de indescritível beleza.
Benção e maldição, alegria e tristeza.
A morte é parte da nossa natureza.