domingo, 26 de dezembro de 2010

Sobre alguns pesos e algumas medidas

O mundo é leve por fora e pesado por dentro,
Superficial na crosta e profundo no núcleo.
Imbecis são leves e superficiais,
E babacas são profundos e pesados.
Meus bons amigos são leves e profundos.
Há de se espelhar em alguns deles.
Há de se emagrecer as percepções
E engordar os entendimentos.

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Linnie McCallister: Kevin, you're what the French call "les incompetents."

Tenho praticamente a faca e o queijo na mão, veja bem, vizualise mesmo, guarde essa imagem. Eu costumava saber das coisas que eu desperdiçava, mas isso era antes. O lamento indicava esse pesar. Mas o monento agora é outro porque acordei cru, oco e sobretudo descrente mas decidido a me engajar nesse processo de jogar tudo pela janela. Tudo que passava despercebido agora se submeterá à minha lupa infernal. O propósito ainda está em aberto, mas a julgar pelos e com os ânimos de então, tudo aponta para um masoquismo físico e emocional. As vontades às vezes vêm em ondas e de repente não valem mais a pena se não há impulsividade. E isso é para o bem ou para o mal. Não sinto falta de nada, as minhas necessidades descontextualizadas são nulas, é sempre um sentimento em relação a outros sentimentos. Se houvesse só um momento em que fosse capaz de isolar tudo de forma saudável então me sentiria bem, por pelo menos enquanto ele durasse. Não sei o sentido disso tudo, mas sinto que é o mínimo que se possa fazer, ou mesmo um pedido de desculpas por uma eternidade de omissão.

"If I could have it back
All the time that we wasted
I'd only waste it again
If I could have it back
You know I'd love to waste it again
Waste it again and again and again"

The Suburbs
(Continued) - Arcade Fire

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Venga

Menos poesia, menos realidade
mais realidade poética
surpresa boa, inverosemilhança, surrealismo real
menos solidão, menos multidão
mais mundo e loucura

A onda suave
o cheiro do novo
a saudade com horas contadas
o dinheiro achado no bolso do casaco fodido

Daí então,
anunciado na fusão (des)agradável desses quatro elementos:
nas águas dos cafés da tarde recém passados
nos ares daqui perfumados com mafu queimados
nas terras dessas praias poluídas
nos fogos requentando as comidas

Daí já vem.

domingo, 12 de dezembro de 2010

a pig in a cage on antibiotics

should it go or should it stay
let it here or keep away
now quit it or let it play
not giving a fuck by the way

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

If you´re feeling sinister...

É tanta coisa para sair daqui que me engarrafo, me confundo e por vezes me sufoco. Eu falo para as coisas seguirem devagar, quero colocar meus entendimentos em fila indiana e então contá-los, ponderá-los e os permitir ou não uma ação. Mas os departamentos se misturam, as imaturas querem sair primeiro, zoneiam o processo aqui de dentro. A quantidade opressiva também não me ajuda e o lixo, Ah! o lixo... com certeza isso é um atraso de vida. Quão fabulosa velocidade e vigor! Me olhando de fora me sentiria lisongeado, mal sabendo a bagunça acima do pescoço. Se aquietem, me ajudem, uma por uma e cada pobreza de espírito na sua devida lixeira, hão de ser recicladas! Do jeito que está sinto que não vou muito longe, achava que precisava de organização, mas não é só disso, não sei mais de nada, alguma coisa precisa ser feita enquanto o tempo já urge há tempos.

domingo, 14 de novembro de 2010

É...

O que eu tinha pra falar eu me esqueci, mas agradeço a atenção de todos vocês por terem vindo nessa audiência, eu anotei tudo do dia de hoje em algum lugar mas não me lembro, acho que em um caderno pequeno, verde, que eu não sei onde está. Faz assim: Quem achar o caderninho verde lê em voz alta, ou melhor, quem achar eu pago um almoço. Assim vocês se distraem, não perdem seu tempo à toa vindo aqui hoje, e depois fazemos uma versão pocket da reunião sobre o que vim propor que eu nem me lembro mais o que é. Tá, mas enfim cadê o caderno? Tomara que esteja no caderno! Não, não, esse nem é meu e é vermelho, vai gente! Valendo um almoço-o-o-o 3, 2, 1! Cabou! Infelizmente ninguém achou nada, vejo vocês mês que vem, vou tentando me lembrar enquanto isso...Ou mesmo antes, ih já pensou se eu lembro descendo com vocês no elevador? Vocês subiriam de novo então? Ou quem sabe o caderno pode estar na recepção, vai ver deixei por aí...Se bem que nem tenho certeza se anotei mesmo, quanto mais naquele caderno vermelho, verde sei lá qual que é a cor mesmo?

sábado, 6 de novembro de 2010

Torradas com geléia

Na chuva do quintal de casa, visto da sacada do prédio, entre pontos de ônibus entupidos de desejos realizáveis em minutos, daqui avisto as cabeças. As cabeças não param. Sobem, sobem sobem... Estão mais altas do que eu, embora demonstrem interesse no asfalto. É que o sonho saiu de moda. A viagem perdeu o seu valor. A materialização do desarranjo e/ou desespero virou perigo e o menor sinal de desapego pós reflexão à vida no momento é, ora repulsivo, ora cafona. Cada formiga dessa tem uma história. Pelo cocoruto, onde posso observar sem ser observado mesmo na certeza de nenhum olhar se encontrar aos meus aqui de cima, posso afirmar pelo cheiro que elas exalam, e que me chegam ao sexto andar, o aroma do conflito silencioso e envergonhado que elas tratam de disfarçar com qualquer perfume que encontrem à disposição. Daqui de cima posso andar nu, posso falar e fazer baixarias, posso me jogar encima deles, que O medo de ser um sonhador que ronda o térreo, me acobertará para logo mais ir à padaria comprar torradas e geléia como se nada tivesse acontecido e então tomar meu café da tarde na paz de Jah.

"Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava
De olhos abertos lhe direi
Amigo, eu me desesperava

Sei que assim falando pensas
Que esse desespero é moda em 73
Mas ando mesmo descontente
Desesperadamente eu grito em português"

(Belchior)

domingo, 24 de outubro de 2010

dimanche matin

Quand je te dis "je suis heureux!"
Alors, ne souris pas.
Non que je sois un menteur,
(ça c´est vrai et faux en même temps)
Mais le bonheur e la mauvaise heure sont très proches dans moi.

sábado, 9 de outubro de 2010

04:30 am

Poste de luz
Ilumine meu caminho
Afugente os assaltantes
Na volta para o ninho
Que esse retorno emocionante
Noite adentro sozinho
Sirva de encontro lancinante
Com a última taça de vinho
Me leve embora daqui em diante
Prepare meu banho, minha cama e meu dia seguinte

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Bruno

Pisca os olhos, pisca de novo.
Quebra esse hiatus e revela sua positividade e viço.
Quero ouvir sua gargalhada
Seu jeito solto, seu olhar curioso, suas histórias de vida.
A sua música muda, seu filme fixo, seu sabor neutro.
No conforto do estar, me mostra por completo.
Há mundos desconhecidos, revele o seu.
Por trás desse sorriso, essa voz mansa, e essa vontade de viver.
Tem algo raro, das raras coisas do agora, que vale a pena tomar nota.
Quero ver você.
Apareça.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Só a bailarina que não tem...

Meus dedos percorrem o seu calcanhar
Há sustos, sorrisos e tremores
A ponta do dedão lateja e os pés se curvam
Tentam se fechar como fazem as mãos
Perceba as veias em profusão,
Bem como os calos e feridas sob curativos.
Ainda assim há graça e erotismo enquanto gira no palco
Quando tira sua meia, enrolando-a na perna, no fim do dia
E ainda mais quando respondem à essas carícias.

sábado, 25 de setembro de 2010

Love songs

Se apaixonar é como ouvir as músicas preferidas por acaso, sem apertar o play. Amar é poder compartilhá-las. E morrer de amores é usá-las como auto-flagelação.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

the best years of our lives

Temos medo de ceder. De acabar nos vendendo à uma vida que hoje falamos de boca cheia que repudiamos. De ver preciosos amigos nossos sendo capturados por uma vida comum, medíocre, ordinária. De nunca mais os reconhecer fantasiados de cidadãos de bem, com família, e um "bom emprego". Achando que se deram bem na vida ao finalmente pagar a última parcela do seu primeiro carro zero. Não quero olhar nos olhos deles, e somente neles, encontrar resquícios do nosso presente. Prefiro morrer antes da conformação e acomodação, mediantes longos dias de estudo para conseguir um emprego burocrático, preso em um departamento qualquer, bebendo café o dia inteiro, enquanto o mundo de verdade lá fora se tranca pra mim. Não nascemos para esse tipo de coisa, e o dia que perdermos a nossa capacidade de nos expressar como hoje, aí será o fim. O dia em que ficarmos carecas, pançudos, passando as férias na região dos lagos, com filhos, aí será o fim. Quando em um porre esporádico, numa celebração esporádica, houver choro nostálgico e covarde, aí será o fim. Prefiro antes definhar de tédio, ser consumido por um câncer, ser alvo de bala perdida, antes de me deixar levar de fato à decadência da impotência e do conformismo. No fundo do meu otimismo, mesmo cada dia mais enfraquecido, desejo que nossos ideais de vida de hoje se concretizem. Do contrário não haverá mais nada. Boa sorte, amigos.

domingo, 12 de setembro de 2010

Neighborhood

Daí que ocorreu o seguinte: ela estranhou a ausência da gata ao entrar em casa e acendeu todas as luzes. A vizinha da casa em frente estranhou as luzes e o desespero dela acesos e chamou a polícia. O ladrão na casa ao lado da dela se assustou com a sirene e caiu arreganhado do alto de um muro e desmaiou. A velha da casa ao lado, ouvindo o estardalhaço, colocou fogo no sofá com uma guimba de cigarro ao ver o ladrão desmaiado pela janela. A polícia a par dos incidentes chamou uma ambulância para ele e o corpo de bombeiros para velha. Lá pelo meio da madrugada, lá volta a gata, segura de si, desfilando pela rua em direção à casa da sua dona, sob luzes coloridas das viaturas da polícia, da ambulância e do corpo de bombeiros.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Exit

Aos barulhentos o meu silêncio
Aos vândalos a minha autopreservação
Aos imbecis uma reflexão goela abaixo

À caretice a minha imoralidade
À reunião o meu isolamento
À despedida o meu suspiro

Ao arrependimento o aprendizado
Ao sol o vento da chuva que cairá logo mais
A esses a minha decepção, repúdio e exclusão
Ao aniquilamento os seus louros como merecimento

domingo, 29 de agosto de 2010

You´re sleeping in a submarine...

Quando chegava a hora de dormir, Bernardo se concentrava em baixo dos cobertores. Se fechava no seu sarcófago e testava se a luz estava tão preta da mesma maneira em que seria se fechasse os olhos. Nunca tinha ocorrido que a escuridão ou os olhos fechados não fossem tão negros quanto uma folha de papel preta, pura, límpida e uniforme, mas interrompida por mínimos pigmentos de branco ou cinza. De quando em vez a imaginação atrapalhava também, e projetava no escuro os personagens próprios dela, as pessoas da sua cabeça, as cores do dia seguinte ou do dia que passou, como a tela de um cinema falido. Mas o que sobrevinha de fato era a sensação de pausa, de como bom seria interromper a vida um instante sob o calor dos edredons, envolvido pelo mantra moderno tropicalista vindo do refrigerador de ar. Afinal, o que apreciava tanto naquela pausa? Um tempo da vida ou uma morte reversível ou as duas coisas? O fato é que sempre que quando essa hora chegava, desejava ele durar mais alguns momentos, dias, anos, séculos. A pesagem pendia mais para a procrastinação da vivencia futura do que digestão da vivência passada. Tudo isso era uma fantasia, não se pode morrer só um pouco e nem adiar o dia seguinte eternamente. E depois o que fazer nesse interim? Viver como um vegetal? Ficar preso no limbo que antecede o dia seguinte feito um zumbi, cada vez mais doente e perdido nos próprios pensamentos? Esse ponto era crucial, porque refletia a desistencia dele em relação à pausa e consequentemente entrega ao mundo de Morpheu. Passado algumas horas, percebidas como cinco minutos, Bernardo então se levantava e ia viver sua vida da melhor ou pior maneira possível. Cabendo ao quesito indecisão, só, e somente ele, mediar o meio termo entre esses dois polos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

I like the peace, in the backseat

As bolhas de água no vidro traseiro do carro parecem estar vivas quando há velocidade e chuva. Elas correm para mesma direção como espermatozóides em busca do óvulo. Então eu pensava em vozes para elas como em “olha quem está falando”. Se há muita velocidade elas se afilam parecendo um flagelo. Quanto mais volumosas elas ficam, mais rápida vão passando pela superfície, e quanto mais vão passando mais vão acumulando volume com as mini-esferas de água pelo caminho, no final elas são impossíveis de acompanhar de tão rápidas. Comemoro quando uma, com muito esforço e sacrifício, consegue terminar o trajeto, e quando essa se vai bate aquela saudade. Se eu tivesse um amigo do lado no banco de trás então nós escolheríamos cada um uma bolha e torceria para que a nossa chegasse antes ao seu destino.

domingo, 15 de agosto de 2010

Anguish

A angústia não tem dono.
Volúvel, hoje é por isso para amanhã ser por aquilo.
Sem previsão. Sem escapatória. Sem culpabilidade.
Convive-se com ela. Aceita ignorando-a e/ou embebedando-a.
Cobranças, nostalgia, comparações e estimativas
Mesmo na ignorância e especialmente na ignorância.
Lá cogita tudo que foi e não é, ou que poderia ser e não será.
A paz é química, alienação ou negação.
Pessoas tranquilas não existem.
São invenções da publicidade dos fabricantes de cereais e de benzodiazepínicos.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Chelsea girl

Assisto aliviado de camarote à sorte que me foi dispensada.
Me sufocaria de frieza, impotência e tédio proposital
(Apesar de nunca saber quão interessante persona um dia fora)
Não é mais amor, nem obssessão patológica
Mas também não é ódio, apesar do frio na barriga ocasional.
Não convenci, mas me convenci. Eis a minha ventura.
O prazer agora é outro, muito embora não fuja à minha natureza.
Sou um voyeur esperando seu sucesso ou fracasso.
Daqui te olhando, quando nada melhor eu tiver para fazer.

domingo, 1 de agosto de 2010

Depoimento para Denise

Ela não se importa com os fatos
Mas com as impressões e sentimentos
Essa moça é a de essência e de atmosfera
Do turbilhão de acontecimentos
Paralisa o tempo e o espaço
Para eu digerir, suprimir, incluir
Admitir e conferir o que for preciso
Inspira-me, diverte-me e amplia-me
Nosso caso é antigo, de outras vidas que eu não creio.
A ligação já foi feita
E eternalizada a cada novo encontro.

sábado, 3 de julho de 2010

Regras da ABNT

Estou farto do lirismo acadêmico
Do lirismo prolixo
Do lirismo de monografia, dissertação de mestrado com dedicatória,
Espaçamento 1,5 e agradecimento ao Sr. orientador
Estou farto do lirismo que pára para notas de rodapé
E sugere referências bibliográficas hipócritas

Abaixo o método científico!

Estou farto do lirismo ABNT
Burocrático
Tedioso
Indireto
De todo lirismo que escreve 10 laudas em Arial 12
Mas enrola até 50

Será constrangimento o que eu disser
Aos vômitos, em linguagem chula, sem conclusão,
Ou antes, somente conclusão sem introdução e um desenvolvimento?

Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos filósofos de botequim
O lirismo difícil das teorias paridas em THC
O lirismo livre de Clarice Lispector


- Não quero mais saber do lirismo pretensioso!

domingo, 20 de junho de 2010

Good god

The tree grows with apples just born rotten

As they fell, dead animals eat these fruits

And then sick black birds feed themselves with these creatures

For just get sicker and die from bad smell and also intoxication

What can anyone say about the decomposers?

They’ll eat the black bird’ bodies without conscious of the dirtiness

And they’ll pass away to make the ground richer

Like you, like me, and all the others

But consciously.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Fobia Social

De onde vem toda essa vergonha?
E para onde vai esse rubor ou palidez de mãos frias e embrulho no estômago?
Vem do nosso umbigo.
Da nossa mentira interor que impulsiona a gente idealizada.
O complicado é não desconstruir essas imagem ou transparecer a podridão.
O risco do personagem vacilar se torna uma possibilidade real.
No remoer desse risco ele toma propoções gigantescas
Caso de vida ou morte
Uma questão de segurança nacional.
Essas pessoas não me podem fazer mal.
(repete mil vezes)
Não enquanto eu não tiver puro!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

vinte e três

O tempo é um demônio.
Nada tem de bondade nesse senhor que a humanidade atribui ações milagrosas e balsâmicas.
Essas não são frutos dele, e sim do hábito.
Ele é um sado debochado.
Quando muito dele se precisa, ele se vai depressa.
E nos menores instantes que seja de tédio ou mal estar ele se prolonga à eternidade.
O tempo é um construtor de monstros, um destruidor de lares, uma borracha fraca, mas constante, de memórias.
O tempo é um assassino.
Levará com ele a existência de tudo e de todos para o limbo da não-essência.

terça-feira, 1 de junho de 2010

A história de Celeste

Essa é a história de Celeste. Uma mulher que de tanto que engravidava, já tinha uma fila de bebês em seu corpo para chegar ao útero, sem que pra isso precisasse existir necessariamente copulação.
Cytoleste era seu apelido, depois de inúmeros comprimidos de Cytotec engolidos.
Todos eram nomeados por Celeste.
O critério era ou a novela das 21 horas, ou um personagem de um filme ou às vezes a junção de “Celeste” com o seu atual romance.
Cytoleste perdia peso, saúde, vontade de viver.
Sempre enjoada parava na farmácia a fim de curar de suas náuseas.

- Tem muita criança aí, Celeste! Abre a boca! Estou vendo umas perninhas...
- Celeste, toma rumo na vida!
-Celeste, isso não é vida!
-Celeste, amor da minha vida!

Cytoleste e seus bebês. Celeste e seus fetos disformes. Eles definhavam. A fila não se via mais final e Celeste estava perto do fim.
Após sentir uma pontada na barriga e fazer um sinal da cruz, Celeste morreu com João na barriga. Não o primeiro, mas o terceiro e último João dos 55 filhos que cruzaram o corpo de Celeste rumo ao vaso sanitário.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

shuffle

- Você quebrou o ritmo!!!

- Não tem essa de quebrar ritmo. Era pra ser aleatório.

- Exatamente. Mas você padronizou.

- Mas na aleatoriedade estamos sujeitos a isso.

- Qual?

- Fazendo de forma aleatória é de certa maneira o ritmo.

- Não é bem assim.

- É sim. Se repetirmos isso eternamente se torna um padrão.

- Talvez você tenha razão. Mas como fugir dessa intenção?

- Acho que é só impedir que os outros percebam...

- Ah sim. Continua então!

Parasitismo

Que queria a pedra embaixo da árvore?

Queria que a árvore não fosse cortada.

Nada tinha de ligação uma com a outra.

Mas não tendo árvores, talvez não haveria mais pedra.

Um toco e uma pedra poderiam ainda servir de assento.

Esse era um pensamento positivo da pedra.

Mas quem se habilitaria a manter os dois ali no chão?

O propósito da árvore já tinha acabado.

O da pedra nunca existiu.

A árvore foi derrubada antes de qualquer especulação otimista da pedra.

E a pedra foi removida.

Uma vez cortada, a árvore virou mesa de centro.

Uma vez retirada, a pedra foi jogada no rio e nascem sobre e entre ela, lodo e algumas plantas aquáticas.

Havia na pedra uma saudade da árvore. Da sombra. Da brisa. Das folhas que caiam da árvore sobre ela no outono.

Mas havia na pedra também o medo.

O medo da morte das plantas aquáticas.

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vida de inseto

Fico pensando no campo aos arredores do formigueiro. Porque veja, não são todas as folhas aproveitáveis ou ao menos desejadas por esse povo trabalhador. Ignoro se por nem todas serem tão saborosas, ou talvez algumas possam ser até mesmo indigestas. Mas A folha, com "a" maiúsculo, certamente tem um sabor especial. Ou talvez não. Workaholic como as formigas são, é capaz de rejeitar a pétala que cai na sua varanda, só pelo prazer da labuta em atravessar todo o gramado e percorrer o percurso de volta com 10 vezes o seu peso nas costas. Nunca vou descobrir o gosto dessas folhas. Não por não ser formiga e, por conseguinte, não ter papilas gustativas de formiga. Mas por admiração a esse grande sacrifício, que é para esses insetos saborear o manjar dos deuses. Sendo assim, faço um dueto com a cigarra e a contemplação já me basta!

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Humour:Amour

Apenas um dia me dura o ódio
Os outros são só de amor
Capaz de nem todos os "uns" serem de ódio puro
Mas sim um ódio em estar amando
Ou talvez ódio por ciúme do objeto amado
Sou pesado para o amor me trazer leveza
Guardo algo que não existe
Guardo o contrário do rancor
Não entendo porque choro, grito, não como e nem durmo
Se em 24 horas serei amor de novo
Meu prato de vingança tem que ser servido quente
Do contrário perco o apetite
Não é memória fraca, é só coração mole
Não é sangue de barata, são só os outros amores
O ódio definitivamente não me completa
Só o amor.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Teenage Angst

Onde fica o botão da abstração em mim?
Uns dizem ficar na cabeça...Mas dentro?
Outros afirmam que não, é no peito que ele mora.
Não acho de jeito maneira!
Já bebi inúmeras doses, fumei incontáveis cigarros
Engoli milhares de comprimidos,
E dediquei uma juventude no mundo de Morfeu.
Analistas não me fazem nem cócegas, já bati com a cabeça na parede.
Para hoje chegar a conclusão de que não tenho um botão desses .
Nasci com defeito.

domingo, 2 de maio de 2010

TIPS

Entregue-se
Dê vazão aos seus instintos
Liberte-se
Saia do pré-destinado caminho
Revele-se
Já conheço a imagem deste negativo
Ame-se
Obedeça às suas vontades
Ilumine-se
À luz do que já está claro
Abra-se
A vida não é eterna
Analise-se
O que está por dentro é o que conta
Expresse-se
Há ainda mais beleza e bondade
Foda-se
Não se interesse pelo o que eles falam

quarta-feira, 21 de abril de 2010

La douce humanité

Está ao meu redor. Confunde-se com a minha áurea. Minha indolência é leitosa. Forte por dentro e fraca por fora. Na cabeça planos e na vida sono

É literário esse estado de paixões, desejos e instintos. Platônico na essência.

Um dia Napoleão, no outro Machado de Assis e amanhã François Truffaut.

Tem coisa boa vindo e sou eu quem nota. A vida é boa, mas o sentido de percepção doente. A vida voa. Uma vida jogada fora não é uma vida jogada fora ao se perceber jogando-a fora.

Perdão aos africanos, aos indigentes, aos doentes, aos celibatários, aos presidiários, às vítimas de Hiroshima, Nagasaki e também Chernobyl. Mas por enquanto não posso gozar deste espetáculo.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Carta ao Sr. R. A. e à Sra. T.B.

Rio de Janeiro, 14 de Abril de 2010


Vocês esperam pelo pior. É visível nos seus olhos o pânico e a piedade compartilhada sem razão. O problema é que eu não posso os confortar. Meus argumentos sempre soam como justificativas cínicas, meras desculpas esfarrapadas e que reiteram ainda mais meu suposto desarranjo. Não os culpo, nem muito menos me ofendo. Pelo contrário, vejo nesse equivocado terror uma prova de amor involuntária e até mesmo irônica. Se fosse possível uma volta ao tempo, dessa vez mais cuidadosa, perceberiam que o pior não está por vir, essa fase, por enquanto, é passado até onde eu saiba. O mal de outrora, com certeza existiu de fato, entretanto despercebido ou vivenciado na negação, como se o debate o alimentasse. Por favor, entendam o meu lado. Estou numa camisa de força, em um carro a caminho de um manicômio. Se me debato, faço jus ao meu diagnóstico e veriam nisso a certeza de terem feito a coisa certa. Mas se por outro lado fico apático, dou provas de conformação de um estado no qual eu não me encontro. Como proceder nesse caso? O procedimento é não proceder. É difícil dizer que larguei essa loucura de mão. Nessa história não há culpados e nem vítimas. Talvez não haja nada. Pensemos no futuro. Use suas orações para que estejam realmente errados. Por mim, por vocês e por todos os outsiders do mundo. Mas nesse momento sou eternamente grato pela preocupação e espero sinceramente ser motivo de orgulho um dia. Amo e amarei vocês para sempre.


"Mother I tried, please believe me

I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.

Isolation, isolation, isolation."

(Ian Curtis)

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Mulheres Noturnas: Lívia

Lá vinha ela descendo a rua. A bolsa pendente em um braço e os sapatos pendurados nas mãos do outro. Passos irregulares, como que desvia de pedras pontiagudas para não machucar seus pés já tão castigados pelos sapatos essa noite, ou mesmo evitar que a meia calça puída e esburacada por cigarros alheios se desfaça de vez antes de chegar em casa.

De chofre ela para e procura um espelho na bolsa. A busca bêbada desse objeto e a quantidade de coisas na bolsa resultam numa procura sem fim. Quando encontra o bendito espelho, acha melhor não conferir seu estado a essa altura da madrugada. Mas por coincidência ela encontra perdido no fundo da bolsa três reais e cinquenta centavos. Coincidência porque o botequim logo ao lado anuncia garrafa de cerveja por exatos três reais e cinqüenta centavos, e não tendo mais nada a perder essa noite, além dos tais três reais e cinqüenta centavos, Lívia viu nisso um chamado esotérico, ou mesmo uma lógica cabalística talvez, e decide entrar e pedir uma garrafa de cerveja.

Adentrando ao molambento recinto, ela pacientemente esperou dois minutos para ser atendida. Diz-se dois minutos, mas na ebriedade essa metragem de tempo tão artificial perde o seu caráter preciso. De modo que ao ser atendida, ela fez uma cara de quem ou esperou muito tempo ou não esperou nada, só podendo ela saber com precisão. Puxou um cigarro do bolso e quando a labareda do isqueiro estava frente a frente com seu nariz, não pode deixar de reparar então no cartaz do outro lado do estabelecimento. Pendurado ali em fonte Times New Roman e com bordas empoeiradas, engorduradas ou só sujas mesmo, algo estava para ela, assim como a runa suástica estava para os judeus. Ou seja, um aviso de proibido fumar.

Arrancou então a garrafa do balcão e juntas se dirigiram para o meio fio. Lá sentou e saboreou o gosto da noite perdida misturada ao sabor especial da última cerveja da noite. Nesse meio tempo, não deixou de reparar numa curiosidade absurda. Os bares ao longo da avenida em perfeita sincronia fecharam suas portas. O descer dos portões de ferro, um após o outro, como num efeito dominó, cada qual emitindo uma nota diferente com tamanha perfeição, que se houvessem bares o bastante, seria possível formar uma bela melodia. Melodia essa que serviria de trilha sonora para o que via ao seu redor. O desfile de prostitutas e travestis. Os adolescentes perdidos. Os jornaleiros já de pé em suas bicicletas. Os taxis passando a mil por hora...

Ao fim do espetáculo, e por assim dizer da cerveja e da última tragada, Lívia se levantou e novamente tentou entrar no bar. Tentou porque não reparou quão cheio o botequim se encontrara. Talvez não estivesse nesse estado momentos antes de se sentar na sarjeta, e possivelmente pelo fim do expediente dos donos dos outros bares, os clientes daqueles para ali se dirigiram. Tentou se enfiar no meio das pessoas para atingir o balcão e pagar o que devia. Empurrava de um lado, empurrava de outro, mas nada parecia mobilizar aquela multidão que se comunicava aos cochichos, que somados tornava-se um estardalhaço. Na sua honestidade insistente, com muito esforço esticou o braço e o máximo que pode foi enfiar sua mãozinha com unhas descascadas entre o labirinto de vãos formados pelos braços e corpos à sua frente. Foi quando jogou três moedas de um real e outra de cinqüenta centavos na direção do que parecia ser o balcão. Colocou o casco e o copo em um cantinho e continuou seu rumo.

Alguns passos mais a frente, já se preparando para atravessar a rua, ela sente uma mão repousar sobre seu ombro. Girou o pescoço já se preparando pra enxotar algum bêbado, ou qualquer desses malucos da madrugada, que ela tanto atraía. Mas não era um desses tipos desta vez. Era o dono do bar. Enquanto uma mão apoiava em um ombro da moça, a outra era estendida, num claro pedido de pagamaneto. Ora, mas qual pagamento? Ela já tinha pago o que tinha consumido. Que abuso era esse a essa hora do dia? Não deu atenção ao homem e viu que já era possível atravessar a rua. Seguiu em frente. Quando chegou do outro lado, o homem do bar lá estava de braços cruzados esperando por ela.

- O que você quer de mim? Eu já paguei o que devia.

- Ah é? Quando?

- Não consegui chegar até o balcão. Mas ainda assim joguei as moedas para dentro do bar.

- Isso é o que você diz, eu não vi moeda nenhuma.

Ficaram nesse bate-boca até que Lívia decidiu sair andando, uma vez que aquele papo não chegaria a lugar algum, e nem ela tinha mais dinheiro para oferecer de bom grado, apenas pra dar um fim àquela situação ridícula. Começou a andar rápido, e os passos atrás dela também, quando foram vistos estavam os dois “correndo”. Correndo entre aspas mesmo, porque ela com seu fôlego de fumante, carregando os sapatos na mão, e bolsa no ombro, e o homem grande e gordo, era mais um padeiro português, com direito a barriga, bigode e caneta atrás da orelha, não praticam o que se chama de corrida. Quem os via poderia até desconfiar que estivessem voltando da praia, ainda praticando jogging, se não fossem as roupas pouco apropriadas. Duas voltas no quarteirão e essa cena terminou com o cansaço mútuo dos competidores.

- Eu desisto disso! Não tenho dinheiro, olha na minha bolsa. Já disse que paguei com minhas últimas moedas – Disse ela ofegante.

- Eu acredito em você. Agora já pra minha cozinha. Você vai lavar a louça, por quanto tempo eu a achar necessário. – Interrompeu-a.

Lívia cansada da noite, da corrida e dessa suposta dívida esdrúxula, acompanhou o homem até o bar. Pedindo licença aqui e ali aos clientes que nem se manifestaram com toda a cena anterior, conseguiram chegar dentro da área de atendimento. O homem indiciou o que era pra ser feito, alertou para alguns truques domésticos, vícios dos objetos que só o dono de uma cozinha é capaz de notar, e a moça obedeceu-o calada com uma resignação indolente. Queria acabar logo com essa história. Queria só ir pra casa e descansar. E até poderia dizer que queria lavar a louça, se isso agilizasse mesmo esse processo. O problema é que o dia estava amanhecendo. As pessoas não iam embora. O homem não achava ainda que era o suficiente. E ela continuava pagando a sua dívida de três reais e cinqüenta centavos.

O relógio ia dar 10 horas da manhã. Lívia irritou-se e perguntou ao homem:

- Quando vou poder ir embora? Quando essa gente vai embora?

- Essa gente não vai embora nunca. Eles moram aqui assim como eu. – Disse o dono do bar com uma calma que delimitava sua superioridade em relação à sua atual subalterna.

- E como consegui entrar nesse bar?

- Você entrou pela porta da cozinha. Eis o mistério. Agora pega suas coisas e vá embora. Pela porta da cozinha. Ficarei com pé esquerdo do seu sapato.

Lívia obedeceu. Foi lavar as mãos na pia, pegou sua bolsa, e o pé direito do seu sapato. Só então percebeu o quão estranho era aquele estranho ficar com um pé do seu sapato.

- Por que você vai ficar com o pé esquerdo do meu sapato?

- Talvez você precise de alguém para lavar sua louça quando você estiver de ressaca logo mais. Você tem aqui um crédito e este pé o meu pagamento.

- Sendo assim, fique com o direito também.

Antes de sair pela porta da cozinha, reparou que suas moedas estavam jogadas ainda no chão, próximo ao freezer enferrujado. Abaixou para pegá-las e foi embora sem olhar para o homem. Finalmente deixou pra trás aquela falação sem fim, aquele hálito de álcool, e as moscas matinais que se proliferam em ambientes onde cervejas velhas foram derramadas. Na esquina próxima estava um pedinte. Para não correr o risco de não conseguir voltar pra casa de novo, ela deu seus três reais e cinqüenta centavos ao mendigo. E seguiu seu caminho sob sol e segurança rumo à sua cama, mas pensando que parte da sua doação poderia comprar um café na padaria embaixo do seu prédio.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

I me mine, I me mine, I me mine

É o sono, a preguiça, a procrastinação
É a falta de viço, a oscilação de auto-estima, a inadequação
É o ceticismo, o pessimismo, a indiferença
É a matemática, o abismo, a doença

É a realidade adicionada a tudo isso que não permite ser quem eu sou.

terça-feira, 30 de março de 2010

Niterói, 14 de Maio de 2009

Uma tarde em um bar de Niterói há quase um ano, minha querida amiga Patrícia Machado escreveu isso no meu caderno sobre mim. Como quase perdi em um assalto, vou deixar aqui registrado e não precisar mais depender da boa vontade dos maus homens em suas motos e seus velhos revólveres gastos que talvez nem funcionem mais.

Niterói, 14 de Maio de 2009

Envolto nas paredes e seus azulejos. Pensei no futuro, no tempo, no escuro, no ganhar e perder de tudo.
Acreditei nas minhas ideiais
Nas bolhas do copo
No vestido solto
Nas cadeiras sem gente
Nas carnes sem dente
Pensei no vai e vem dos burros, nos fiscais da natureza e seus saltos.
Depois de vários copos de entorpecentes, pensei se sou eu ou uma janela de mim, se sou ou não, uma sucessão pobre se sins.
Envolto nas paredes dessa caixa de um bar, de um lar que me envolve, sou quem sou sem ser, e que quer, sem querer...
Me trago assim por esses caminhos estranhos, na contramão do meu destino que me espera, na solidão de um Eu que mais sonha no sonho na escuridão de quem espera.
Assim sou eu.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Yo-ho-ho, e uma garrafa de rum

Se fosse o monstro do armário, me matava.
Levava tudo que para mim era importante.
E se enganaria.
Se tivesse vingança, menos mal.
A perturbação vem do laconismo e a indiferença.
E me perdoaria.
Se fosse escolher, seria um artista.
Te transformaria em personagem. Riria de você e de mim.
E quando acordasse estaria dentro de uma garrafa vazia de rum.
E os rins numa banheira me tiraria.

terça-feira, 23 de março de 2010

Suspiro Sutil

Apesar da moral católica, anti-eutanásia, tenho meu direito de hora em hora escolher morrer mais um pouquinho. De que outra forma teria eu, a oportunidade de me isolar com a legitimidade da sociedade, algumas vezes por dia, para reavaliar a vida, o montante que se formou desde a última pausa? É no entrar do alcatrão, absorção da nicotina e no expirar do gás carbônico que tudo fica claro pra mim. Justifico meus erros, conscientes ou inconscientes, nessa autoflagelação. Comemoro minhas vitórias com esse delicado prazer. Tímido que sou, me escondo do mundo dentro dessa fumaça branca. Arrumo o que fazer com as mãos, quando o dia é quente e não as dá pra enfiá-las em um confortável casaco. Ganho mais firmeza no gesticular. Tenho companhia na madrugada e no insistente tédio existencial. Tenho pequenas doses de subversão. Tenho pílulas ansiolíticas etéreas. Tenho motivos para sair de casa nos dias tristes ou mesmo de tempestade. Tenho quem encontrar todos os dias de manhã, mesmo quando acordo sozinho. Viro criança a cada 40 minutos para brincar com fogo sem mijar na cama. Apesar de tudo, meu amigo e eu iremos nos separar. Um dia. Mais especificamente na segunda-feira próxima, ou então no meu aniversário, ou quem sabe no ano novo, ou melhor, só vamos nos despedir quando eu conseguir aquele emprego. Ou quem sabe, não sei. Um dia vamos!

"Arte de Fumar
Desconfia dos que não fumam:
esses não têm vida interior, não tem sentimentos.
O cigarro é uma maneira sutil, e disfarçada de suspirar"
Mário Quintana

sexta-feira, 19 de março de 2010

Shirley Remédios precisa de ajuda!

Shirley expos num site de relacionamentos seus problemas. Ela tá precisando de ajuda e urgente. Repassem. Twittem, discutam no café da manhã com os amigos! O bicho tá pegando pro lado dela, mermão! Vamos ajudar!

"Tive alguns problemas com a polícia federal. Apurei umas notícias do dossiê gato preto e estou ameaçada de deportamento. Deram-me 2 semanas para sair do país. Para piorar meu infortúnio eu não tenho dinheiro suficiente para a viagem. O superior do departamento de serviços excepcionais sugeriu-me que eu me tornasse travesti e partisse para Itália. Ele inclusive me indicou um terceiro que se engajaria por mim desse processo e de todo o ciclo burocrático em volta. Entretanto, nasci mulher. De maneira que peço a doação de qualquer quantia para mudar para o sexo masculino com Roberto Rey, o dr Hollywood, depois virar travesti e só então partir para meu triste fim nos climas temperados da região de Toscana, na península itálica. Tudo isso em 2 semanas.
Conto com sua colaboração.

Shirley Remédios."

terça-feira, 16 de março de 2010

Schizophrenia is taking me home

Temos sempre pouco a dizer. Mas muita intenção de falar. Nossos pensamentos representados inevitavelmente em forma de palavras, blocos de conceitos, são ora concisos demais, ora prolixos demais. Ainda não inventaram um idioma que os represente como deveria. No papel ou no falar tudo se perde. O banal e o genial confundem-se na entonação, na escolha ou na recepção do que pensávamos transmitir. Não importa se boa ou má, nossas intenções parecem sempre vulgares, pueris, ordinárias e egocêntricas. Queríamos falar nossos pensamentos e não falar mais deles. Teorizar nossos sentimentos. Sistematizar o que nos agrada ou desagrada. Se nos falta coerência, isso certamente não é um problema nosso. Dentro de nós tudo faz mais ou menos algum sentido. Mesmo que por um milésimo de segundo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Stalking...

I find myself on the train. There are passengers in front of my sit, but the long trip makes me avoid looking them in the eye. To the others, who are travelling by my side, I can just imagine how they look like, or what they are doing. I have learned how to improve my peripheral vision, all these years stalking strange and totally ordinary people. At this moment for example, this guy in black on my right, or the blond girl with curly hair on my left, I could bet they were sleeping! How wrong I was! When they got, both, in theirs station I could perceive. The man wearing black clothes, actually was a blond woman with curly hair. And the blond girl that I thought, it was just a teenager with a fashion hat. Funny, ´cause if I didn’t have to go so far I would never find out this extremely important information. God bless me! Now I can really die in peace!

sexta-feira, 12 de março de 2010

Sexta-feira 12

Cycling in the very first morning
The cold hot Rio weather
The search for the so called Endorphin
RUN RUN RUN
The music of past insane nights
Shouting in your years
Reminding the taste of alcohol and the smoke
RUN RUN RUN
The kids waiting for their vans to go to school
The Backpacks on shoulders
And bored gazes on their faces
RUN RUN RUN
The sun, the vitamin D, the almost empty streets
The workers arriving in the uncountable buildings in construction
While old ladies working out to live a little bit more
RUN RUN RUN
The smell of coffee and fresh bread, the retired reading the news
The dogs taking a ride with their owners
The drunken men trying to get home since last night
RUN RUN RUN
The sun gets hotter, the sweat, the weariness
Time to go!
The shower, the breakfast, the sleep
Life’s just begun. For the others.
Never for you.

There's definitely, definitely, definitely no logic to human behaviour

- Sim e não - Disse ela. Respirou, suspirou, hesitou e arriscou um não.
Foi embora. Se arrependeu. Voltou atrás. E encontrou o vazio.
O vazio do arrependimento.
Entre Paris e Londres, escolheu Jaguariúna.
No que chegou na rodoviária, decidiu sentar e esperar.
Esperar o próximo ônibus de volta pra casa.

domingo, 7 de março de 2010

Fluoxetina

A gente se livra da Apatia, mas corre o risco da tristeza
Se livra do Pânico, mas ainda corre o risco de morrer
Se livra da Anorexia, mas corre o risco da obesidade
Se livra da Histeria, mas corre o risco de se tornar um viciado em Crack
Se livra do TOC, mas cultiva hábitos igualmente inúteis
Se livra da Fobia Social, mas não dos seus semelhantes

A gente não se livra do Nascimento e corre o risco do Suícidio
Ou pior: da Reencarnação!

sábado, 6 de março de 2010

U.F.O.

Look those kids there
Laying down on the beach
Why are they looking
for us?
Here in this spaceship
Whith Marte as neighboor
We can´t stay here
anymore


Hey, little demon
Do you see what I see?
Why did that light move
so slow?
Maybe it was a shooting star
or even a satelite
But I´m afraid it was
a U.F.O.

Please Mr. Alien
You can abduse me
But don´t make me pregnant
so soon

It was a pleasure
Dear human
But your son´s already born
on the moon

sexta-feira, 5 de março de 2010

Idade de Gêmeos...

Preciso de um tempo ainda não inventado
Superior às noções da física
Um tempo além das leis da relatividade
Preciso de um tempo metafísico
O tempo vago que me é emprestado está vazio
Por hora, não sei como recheá-lo
Preciso de tempo para fazer tudo em quanto há tempo
mesmo tendo e não tendo o tempo que eu quero
Ontem, hoje ou amanhã
Mas agora,
nesse momento,
Eu preciso desse tipo de tempo
Ou dar um tempo de mim.

I got dirty boots!

Por onde andaram esses sapatos?
Que chão pisara antes de te conhecer?
Em quem pisou? Poderosos, submissas, drogados, prostitutas, homens de família?
Por cima deles, inúmeras calças com barras puídas repousaram...
Eles não têm memória, esquecem de amarrar seus cordões.
Também não sabem se virar, em que buraco entrar e sair, de forma cruzada ou não.
Ignoram o que muitos queriam saber.
Na sua inocência, embaixo da cama depois de dias perambulando a esmo,
Não se deram conta dos ruídos, dos movimentos, dos gritos, espasmos e orgasmos.
Hoje, de solados gastos, eles vão pro lixo.
Sem me contar nada da sua vida.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Página em branco

Há uma página em branco.
Está diante de mim.
As letras, palavras, frases e pontos estão todos lá.
Os parágrafos, travessões e reticências também.
Todos ocultos na brancura do papel ou dentro da caneta.
Num insight, dessa pálida imensidão,
lá surgem eles em tinta azul.
Há uma página em branco dentro de mim.