domingo, 29 de agosto de 2010

You´re sleeping in a submarine...

Quando chegava a hora de dormir, Bernardo se concentrava em baixo dos cobertores. Se fechava no seu sarcófago e testava se a luz estava tão preta da mesma maneira em que seria se fechasse os olhos. Nunca tinha ocorrido que a escuridão ou os olhos fechados não fossem tão negros quanto uma folha de papel preta, pura, límpida e uniforme, mas interrompida por mínimos pigmentos de branco ou cinza. De quando em vez a imaginação atrapalhava também, e projetava no escuro os personagens próprios dela, as pessoas da sua cabeça, as cores do dia seguinte ou do dia que passou, como a tela de um cinema falido. Mas o que sobrevinha de fato era a sensação de pausa, de como bom seria interromper a vida um instante sob o calor dos edredons, envolvido pelo mantra moderno tropicalista vindo do refrigerador de ar. Afinal, o que apreciava tanto naquela pausa? Um tempo da vida ou uma morte reversível ou as duas coisas? O fato é que sempre que quando essa hora chegava, desejava ele durar mais alguns momentos, dias, anos, séculos. A pesagem pendia mais para a procrastinação da vivencia futura do que digestão da vivência passada. Tudo isso era uma fantasia, não se pode morrer só um pouco e nem adiar o dia seguinte eternamente. E depois o que fazer nesse interim? Viver como um vegetal? Ficar preso no limbo que antecede o dia seguinte feito um zumbi, cada vez mais doente e perdido nos próprios pensamentos? Esse ponto era crucial, porque refletia a desistencia dele em relação à pausa e consequentemente entrega ao mundo de Morpheu. Passado algumas horas, percebidas como cinco minutos, Bernardo então se levantava e ia viver sua vida da melhor ou pior maneira possível. Cabendo ao quesito indecisão, só, e somente ele, mediar o meio termo entre esses dois polos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário