quarta-feira, 14 de abril de 2010

Carta ao Sr. R. A. e à Sra. T.B.

Rio de Janeiro, 14 de Abril de 2010


Vocês esperam pelo pior. É visível nos seus olhos o pânico e a piedade compartilhada sem razão. O problema é que eu não posso os confortar. Meus argumentos sempre soam como justificativas cínicas, meras desculpas esfarrapadas e que reiteram ainda mais meu suposto desarranjo. Não os culpo, nem muito menos me ofendo. Pelo contrário, vejo nesse equivocado terror uma prova de amor involuntária e até mesmo irônica. Se fosse possível uma volta ao tempo, dessa vez mais cuidadosa, perceberiam que o pior não está por vir, essa fase, por enquanto, é passado até onde eu saiba. O mal de outrora, com certeza existiu de fato, entretanto despercebido ou vivenciado na negação, como se o debate o alimentasse. Por favor, entendam o meu lado. Estou numa camisa de força, em um carro a caminho de um manicômio. Se me debato, faço jus ao meu diagnóstico e veriam nisso a certeza de terem feito a coisa certa. Mas se por outro lado fico apático, dou provas de conformação de um estado no qual eu não me encontro. Como proceder nesse caso? O procedimento é não proceder. É difícil dizer que larguei essa loucura de mão. Nessa história não há culpados e nem vítimas. Talvez não haja nada. Pensemos no futuro. Use suas orações para que estejam realmente errados. Por mim, por vocês e por todos os outsiders do mundo. Mas nesse momento sou eternamente grato pela preocupação e espero sinceramente ser motivo de orgulho um dia. Amo e amarei vocês para sempre.


"Mother I tried, please believe me

I'm doing the best that I can.
I'm ashamed of the things I've been put through,
I'm ashamed of the person I am.

Isolation, isolation, isolation."

(Ian Curtis)

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