terça-feira, 23 de março de 2010

Suspiro Sutil

Apesar da moral católica, anti-eutanásia, tenho meu direito de hora em hora escolher morrer mais um pouquinho. De que outra forma teria eu, a oportunidade de me isolar com a legitimidade da sociedade, algumas vezes por dia, para reavaliar a vida, o montante que se formou desde a última pausa? É no entrar do alcatrão, absorção da nicotina e no expirar do gás carbônico que tudo fica claro pra mim. Justifico meus erros, conscientes ou inconscientes, nessa autoflagelação. Comemoro minhas vitórias com esse delicado prazer. Tímido que sou, me escondo do mundo dentro dessa fumaça branca. Arrumo o que fazer com as mãos, quando o dia é quente e não as dá pra enfiá-las em um confortável casaco. Ganho mais firmeza no gesticular. Tenho companhia na madrugada e no insistente tédio existencial. Tenho pequenas doses de subversão. Tenho pílulas ansiolíticas etéreas. Tenho motivos para sair de casa nos dias tristes ou mesmo de tempestade. Tenho quem encontrar todos os dias de manhã, mesmo quando acordo sozinho. Viro criança a cada 40 minutos para brincar com fogo sem mijar na cama. Apesar de tudo, meu amigo e eu iremos nos separar. Um dia. Mais especificamente na segunda-feira próxima, ou então no meu aniversário, ou quem sabe no ano novo, ou melhor, só vamos nos despedir quando eu conseguir aquele emprego. Ou quem sabe, não sei. Um dia vamos!

"Arte de Fumar
Desconfia dos que não fumam:
esses não têm vida interior, não tem sentimentos.
O cigarro é uma maneira sutil, e disfarçada de suspirar"
Mário Quintana

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