terça-feira, 9 de agosto de 2011

come to my backyard

Há algo na vida plantas de mais metafísico do que nas do reino animal. Nos parece muito óbvio que nós seres com pelos, mucosas, tecidos, e muito sangue, que emitem sons e que de uma mistureba dessas se possa obter, duplicar, aumentar ou, enfim, reproduzir vida. As plantas nos confunde a cabeça porque têm um refinamento que reside exatamente em não ter refinamento algum. Nascer no chão, no meio da terra, expostas ao sol e à chuva. E imóvel lá ficam elas sob o calor do meio dia e debaixo do gelado orvalho da aurora. A vida vegetal tem um aroma de improbabilidade. Nada mais aleatório acontecer, mesmo sendo a realidade apresentada, jogar um grão de feijão em um algodão molhado e dali misteriosamente surgir uma planta. Quem iria pensar nisso antes. A agricultura foi inventada por acidente e libertou a humanidade de uma vida cigana. Não os culparia pela falta de tato e nem posso, porque também sou humano. Aliás, é por isso que os entendo. A vida vegetal tem esse quê místico e laborioso de planos desconhecidos e incompreendido que a humana não tem. E é esse contraste com a vida humana relacionada diretamente aos vulgares livros de biologia que impressiona. Porque quando se pensa na semente se abrindo e virando um arbusto, uma árvore, igualmente descritas nos mesmos livros vulgares de biologia, não nos deixamos levar pela teoria por completo. Temos a certeza que a vida das plantas envolve outros saberes para além da biologia, como na verdade todo tipo de vida também envolve. Mas de alguma forma isso fica mais explícito em seres que se revestem de clorofila.

Um comentário:

  1. "Bernardo é quase árvore.
    O silêncio dele é tão alto que os passarinhos
    ouvem de longe
    E vêm pousar em seu ombro.
    Seu olho renova as tardes.
    Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho:
    1 abridor de amanhecer
    1 prego que farfalha
    1 encolhedor de rios - e
    1 esticador de horizontes.
    (Bernardo consegue esticar o horizonte usando 3
    fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.)
    Bernardo desregula a natureza:
    Seu olho aumenta o poente.
    (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua
    incompletude?)." Manoel de Barros

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